“Águas da Amazônia – Rios e Povos” nasceu do desejo de criar um diálogo profundo entre a música contemporânea ocidental e os territórios da Amazônia. Inspirado na obra homônima de Philip Glass, o projeto transcende a apresentação musical para tornar-se uma plataforma de valorização cultural, educação e conscientização ambiental.
Em um momento de fundamental importância para a Amazônia e o planeta, este projeto ganha especial relevância ao coincidir com importantes discussões globais sobre clima e sustentabilidade.
O projeto integra a orquestra do Theatro da Paz de Belém com a participação especial de músicos da Amazônia. O concerto honra tanto a tradição clássica amazônica quanto as sonoridades que ecoam pela floresta há milênios.
Projeções visuais, uma para cada rio celebrado na obra, serão criadas por artistas indígenas e amazônicos contemporâneos, transformando o palco em uma tela viva onde música e imagem se fundem para contar as histórias das águas e dos povos.
Philip Glass e a Obra
Notas de Vidro: A Gênese de Águas da Amazônia
No início da década de 1990, Philip Glass compôs uma obra que se tornaria uma das mais poéticas homenagens musicais à Amazônia. Originalmente criada como “Sete ou Oito Peças para um Balé” para a companhia Grupo Corpo, a composição ganhou vida própria quando foi adotada pelo grupo de percussão brasileiro Uakti.
O Uakti, cujo nome vem de uma lenda Tukano sobre um ser mitológico que vivia nas margens do Rio Negro com buracos no corpo que criavam sons encantadores quando o vento passava, trouxe uma dimensão única à obra. Utilizando instrumentos artesanais feitos de PVC, madeira, metal e vidro, incluindo o “Aqualung” tocado com água corrente e marimbas de vidro, o grupo criou o que Glass descreveu como “uma verdadeira fusão da minha música com suas sensibilidades”.
Cada uma das nove faixas do álbum corresponde a um rio amazônico específico, com durações e características que refletem a personalidade de cada curso d’água:
Esta obra representa um momento único na carreira de Glass, período em que o compositor finalmente teve a liberdade de selecionar projetos que sempre quis realizar, resultando em uma abertura para colaborações com músicos de diferentes tradições que enriqueceram profundamente sua linguagem musical.
A parceria com o Uakti demonstrou como o minimalismo de Glass poderia abraçar sonoridades não-ocidentais sem perder sua identidade, criando algo verdadeiramente transcultural. As composições de “Águas da Amazônia” posteriormente inspiraram alguns dos célebres Piano Etudes de Glass, demonstrando como esta obra serviu de matriz criativa para trabalhos futuros do compositor.